quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Há 50 anos, o Santos Calava a Bombonera


Para um time que havia conquistado todos os títulos imagináveis no ano anterior, qual seria a motivação para a nova temporada? Sendo esse time o Santos de Pelé, a resposta era um tanto simples: conquistar tudo mais uma vez. Após um 1962 brilhante, em que havia se sagrado campeão estadual, nacional, continental e mundial, o Peixe só pensava em repetir a dose em 1963, e a conquista do segundo título nacional, em abril, mostrava que a meta não era tão ousada quanto parecia.
Craques como Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, CoutinhoPelé e Pepe – todos bicampeões mundiais com oBrasil no Chile – seguiam formando a base de uma equipe avassaladora e insaciável, que iniciava a busca pelo bicampeonato da Libertadores diretamente na semifinal, eliminando mais uma vez o arquirrival Botafogo, exatamente como na decisão da Taça Brasil daquele mesmo ano.
Mesmo com o amplo favoritismo, o grupo comandado pelo técnico Lula sabia que não teria vida fácil para levantar outra taça, como relata o próprio Rei no filme Pelé Eterno. “O Brasil era então o país do otimismo, e ganhar títulos no esporte passou a ser obrigação”, lembra. “Foi bicampeão mundial de futebol, de basquete, ou seja, era quase uma obsessão ser bicampeão mundial. Então havia uma certa pressão para que o Santos também fosse bicampeão sul-americano.”
Pressão que ficaria ainda mais evidente na decisão do torneio, contra um Boca Juniors que acabara de eliminar o Peñarol e mandaria o segundo jogo em casa. Na ida, uma prova de que o caminho rumo ao bi não seria assim tão fácil: vencendo por 3 a 0, os paulistas levaram dois gols e quase deixaram escapar a importante vantagem. Na volta, no dia 11 de setembro – exatamente há 50 anos –, a equipe viajava para Buenos Aires para encarar não apenas a boa equipe xeneize, mas também um clima hostil criado pela torcida na intimidadora La Bombonera.
O incrível poder de fogo do ataque santista e a magia de Pelé, claro, seriam fundamentais mais tarde. Mas a experiência de decidir um título tão importante no estádio em que o Boca havia vencido seus três jogos da Libertadores até então ficou na memória dos brasileiros. “Jogar em La Bombonera não é brincadeira. A pressão da torcida e a gritaria eram enormes quando entramos”, explica Pelé. O ponta-esquerda Pepecompletaria em entrevista ao site oficial do clube: "O estádio estava lotado, a torcida gritava, nos xingava. Ganhar do Boca Juniors lá, na casa deles, não era coisa para equipe normal."
Guerra e paz
O ambiente pesado se confirmou com a bola rolando. Com uma marcação forte, os argentinos vigiavam de perto a principal estrela santista e davam trabalho ao árbitro francês Marcel Albert Bois. Do outro lado, o atacante José Sanfilippo, que havia reforçado o Boca naquele ano, criava as principais chances para os anfitriões, mas ia perdendo o duelo com o goleiro Gilmar.
O empate nos primeiros 45 minutos não deixava outra saída para o Boca na volta do intervalo: era preciso atacar, vencer e forçar um terceiro jogo, situação que começou a se desenhar com o gol de Sanfilippo – o sétimo do artilheiro da competição – logo aos dois minutos. Em êxtase, os mais de 50 mil torcedores na Bombonera comemoraram e passaram a acreditar na reviravolta.
Havia, no entanto, um “pequeno” detalhe a se levar em conta, como diria Pepe mais tarde. “Um a zero, e aquela galera toda vibrando, o estádio quase vindo abaixo. O campo era ruim, o adversário era forte e jogava duro. Tudo estava contra. Só que tinha uma coisa: era o Santos que estava do outro lado.” O Santos dePelé.
Sem se deixar intimidar pelas faltas – e até por um calção rasgado após choque forte com um adversário –, o camisa 10 alvinegro resolveu em dois lances. No primeiro, quatro minutos depois do gol argentino, ele achou Coutinho na área, e o atacante santista não perdoou. O empate, aliás, fez o camisa 9 explodir em uma comemoração exaltada, atípica para seu estilo em campo, enquanto as vaias ecoavam no estádio.
“Foi um jogo diferente, com muita provocação, e a vibração foi por isso”, relembraria Coutinho, que, pouco antes, precisou ser contido pelo parceiro Zito após desentendimento com Sanfilippo. “O Zito me disse: ‘Não adianta nada. Eles vão perder’. Quando o Sanfilippo fez o gol ele veio me gozar, mas lembrei daquilo. E não deu outra: ganhamos o jogo.”
Com a confiança de volta, o Santos controlou o jogo, mas só foi marcar o gol da vitória por 2 a 1 aos 37 minutos. Em uma jogada típica da dupla de ataque, Coutinho desta vez achou Pelé, que driblou o zagueiro brasileiro Orlando – que anos depois vestiria a camisa do Santos – e, da entrada da área, fuzilou o goleiro Néstor Errea. “Ele deu um drible que deixou o Peçanha quadrado”, brinca Pepe.
Não restava mais tempo – e não havia mais dúvida: há 50 anos, o Santos trazia para o Brasil uma dura e merecida taça, consolidava seu domínio no continente e cumpria parte da sua meta para o ano – a outra viria dois meses depois, com o segundo título mundial, em final contra o Milan. Derrotado naquela ocasião, o Boca se reergueu nas décadas de 1970, transformou-se em uma das maiores potências do continente e conseguiu, 40 anos mais tarde, uma revanche importante contra o mesmo Santos na final da Libertadores de 2003.
FIFA.COM

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