segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Bom e o Mau Jornalismo no Caso Valério Luiz

Jornalista Larissa Rodrigues

Para quem não me conhece meu nome é Larissa Rodrigues e tenho 25 anos. Sim, 25 anos, 7 de jornalismo, 3 de formada. Muito pouco para querer me meter em uma confusão tão grande como o caso Valério Luiz, não? Muito pouco para querer escrever aqui um artigo bem estruturado, com jargões jurídicos e argumentos “inquestionáveis”.

Mas, no alto dos meus 25 anos, tenho ainda aquela crença dos jovens jornalistas que acreditam no poder de transformação da imprensa e, ao mesmo tempo, a noção prática de quem tão nova resolveu fazer da vida algo que desperta paixão, que emociona. E olha que já apanhei muito. Com pouco tempo de jornalismo já fui censurada. Levei “dedo na cara” de torcedor e jogador que não gostaram dos meus comentários tanto na rádio quanto na televisão. Tive “cara virada” por jornalistas que discordavam de minhas opiniões. E, principalmente, vi um colega de trabalho ser assassinado devido suas palavras.

Essa última situação, claro, foi a pior delas. E talvez por isso ainda não tenha sido superada por mim. Valério Luiz foi assassinado no dia 05 de julho do ano passado ao sair de seu programa na Radio Jornal 820AM . Na época, eu trabalhava com ele na PUC TV. Participei de todos os rituais. Choque, luto, velório e enterro. Abracei a viúva, Lorena Oliveira, e ouvi seu pedido de lutar para não deixar impune os responsáveis por esse crime. Fui eu que sentei na cadeira deixada por Valério no primeiro programa depois de sua morte e chorei ao vivo por saber que eu estava ali no lugar de quem tanto tinha pela frente.

É, eu tenho 25 anos e escuto de minha mãe que não devo me meter nesse caso. De alguns jornalistas que Valério não era santo. Dos menos sentimentais que eu deixe tudo para a justiça resolver. Mas... Me diz uma coisa? Como simplesmente deixar com a justiça, que na minha opinião vem trabalhando muito bem, e me calar enquanto vejo profissionais que trabalham para a emissora do principal suspeito usarem esse veículo para defendê-lo? Como ouvir os apelos de minha família, fazer como outros jornalistas, e me calar, sendo que foi para ter voz que entrei no jornalismo? Como não dar voz à outros jornalistas, até mesmo da Rádio 730, que não se pronunciam por medo, por não terem outra alternativa ou até mesmo por falta de caráter? Como acreditar que tenho apenas 25 anos e devo ficar fora de questões complicadas se vejo Valério Luiz Filho, mais novo que eu, fazendo dessa busca por justiça seu sentido de vida?

Sim, hoje estou aqui para dizer que, apesar de algumas decepções com o jornalismo, com a vida, e, apesar da pouca idade, sigo acreditando na profissão que escolhi e na justiça que me assegura o direito de falar. E peço a você, que parou o que estava fazendo para ler esse meu desabafo, que também continue acreditando. Acreditando na justiça que, mesmo com tantas dificuldades, vem fazendo o seu trabalho colocando, e mantendo, na cadeia os suspeitos do assassinato de Valério, entre eles até um homem rico, sendo que muitos duvidavam que isso fosse acontecer. Peço principalmente que você entenda, e perceba, que tem muita gente por ai usando da liberdade de opinião, fato garantido a todos, para distorcer informações. Há uma diferença significativa, mas às vezes quase imperceptível, entre informação, opinião e distorção. Em todos os segmentos da sociedade tem sempre pessoas que vão além do correto, usando o que têm em mãos para conseguir aquilo que querem. E no jornalismo não é diferente. 

O que ainda me motiva é saber que, felizmente, esses jornalistas e esses veículos covardes são a minoria. Como a crônica esportiva, antes tão desunida, se uniu quando Valério foi morto. Como o jornalismo goiano não se calou diante desse brutal crime. O caso estava na pauta quase que diariamente, e quando isso não acontecia, buscava-se novos fatos, novos ângulos, novos temas para que  o assunto não fosse esquecido. Manoel de Oliveira, pai e figura central de uma luta inglória, minutos antes do enterro de Valério pediu: “Não deixem que o povo esqueça esse crime.” E encontrou na liberdade de imprensa sua maior aliada nessa luta. 

É incoerente falar no poder quase intrínseco do jornalista, o da liberdade de imprensa, quando se sabe que Valério Luiz foi calado por seis tiros justamente por falar aquilo que acreditava. E fazia isso muito bem. Muitos dizem que ele era polêmico, era mesmo. Era corajoso. Era incansável. E isso ele conseguiu ensinar a essa jornalista aqui, que inventou de estar em um meio tão complicado como o futebol. Em um ambiente tão preconceituoso encontrei na convivência com Valério Luiz não uma pessoa problemática e sim o respeito como jornalista esportiva e mulher que sou.

Quero apenas dizer que Valério Luiz foi assassinado. Valério era jornalista. E a partir do momento que a polícia afirma, não eu, que ele foi morto ao exercer a sua missão, passa a ser meu problema a mordaça imposta pelo crime. Eu quero falar. Minha carreira está apenas começando. Onde está a minha liberdade de imprensa?

A justiça por Valério Luiz tem de ser feita. E eu não demorei 25 anos para perceber isso.
Larissa Rodrigues é jornalista da Interativa Fm e da TV Goiânia/Band.
Trabalhava com Valério Luiz na PUC TV quando o radialista foi assassinado.


2 comentários:

Unknown disse...

Excelente texto Larissa!! Meus parabéns

Marcelo disse...

Larissa, senti muita arrogância e pouca humildade no seu comentário!!! Repetiu 5vezes que tem 25 anos e é nova... A neim