sábado, 6 de outubro de 2012

Artigo Rosenwal Ferreira: Até tu Martiniano Cavalcanti?


Orador de verbo fácil e língua ferina, Martiniano Cavalcanti nunca perdoou qualquer deslize dos adversários políticos, principalmente dos que não rezam na cartilha da esquerda radical. Suas frases de efeito, carregadas de ódio indisfarçável, desopilam críticas ácidas ao capitalismo, à burguesia e ao lucro em detrimento da classe trabalhadora. Ele vociferou anos a fio contra a falta de ética, condenando acordos espúrios e jogadas em que os fins justificam os meios. Batia no peito dando ares de quem pairava acima da mediocridade geral. Até quem nunca aprovou seu radicalismo, entre os quais eu me incluo, admirava seu caráter.


Assim como o ex-Senador Demóstenes Torres, uma espécie de reverso da medalha de Martiniano, o representante do PSOL despenca das alturas de um pedestal. Cavalcanti, quem diria, foi sugado pelo esgoto de Carlinhos Cachoeira. Seu nome aparece envolvido num cipoal de dúvidas que se enroscam num empréstimo de duzentos mil reais. Candidamente, Martiniano alega que recorreu ao bicheiro para salvar interesses pessoais e que viu nele apenas um agiota disponível.


Teoria difícil de engolir e todos os cenários comprometem o bom juízo do exigente Martiniano. Convenhamos, as empresas sérias, bem estruturadas e com refinado senso ético, não recorrem a agiotas de plantão para resolver seus problemas de caixa. Elas se dignam a mecanismos capazes de oferecer auxílio nos padrões orientados pela legislação. Ao recorrer ao submundo dos negócios, Martiniano negou princípios que apregoava aos quatros ventos.


Não duvido que seja capaz de culpar a saga capitalista, o FMI, a CIA. Imputando seus erros empresariais a forças ocultas controladas pelos Estados Unidos. É uma retórica que lhe cai como uma luva. Infelizmente, os fatos demonstram, com uma clareza incontestável, que havia algo de podre no reino do engenheiro Martiniano Cavalcanti. Seus negócios entraram em parafuso e ele foi justamente cair no colo do mais badalado chefão do cerrado.


Dizer que ele foi ingênuo seria uma ofensa imperdoável. Martiniano sempre foi bem informado e sabe como poucos das engrenagens que movem os corredores do poder. Tinha noção, e até já havia alertado sobre isso, que o esquema de Cachoeira se erguia nas visíveis influências do cerrado. Mesmo assim, Martiniano Cavalcanti foi mais um a beber na fonte que jorra recursos dos caça-níqueis. Provando, na hora do aperto econômico, que para certos indivíduos os fins justificam os meios. Sejam eles de partidos de centro, do meio, da beirada ou da esquerda do espectro político. Uma pena. Cheguei a alimentar respeito pelo implacável debatedor Martiniano.


Rosenwal Ferreira: Jornalista e Publicitário
rosenwal@rrassessoria.com
Twitter: @rosenwalF
facebook/jornalistarosenwal

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