quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Concreto: Solução para acabar com buracos nas estradas e ruas do Brasil




Depois de décadas, as estradas brasileiras voltam a ser pavimentadas, em alguns trechos, com concreto. Muitos usuários sequer percebem que estão sobre outro tipo de pavimento. À primeira vista, a diferença que chama atenção é a coloração. As estradas de concreto têm pisos claros, é cinza quase branco, entretanto, a maioria das pessoas acha que se trata de outro tipo de asfalto.
Para o motorista pode parecer irrelevante, mas na realidade, o pavimento de concreto revela uma grande transformação na gerência de rodovias do país, em particular nas concedidas.
O raciocínio é simples. As concessionárias assumiram trechos, em média por 20 anos, com grande volume de tráfego, principalmente de veículos pesados, em que o pavimento sofre muito mais as conseqüências do uso, portanto, na hora de recuperar uma rodovia, construir novos trechos, duplicar as estradas, é preciso verificar qual será o menor custo de manutenção ao longo do período da concessão.
Neste sentido, o pavimento de concreto tem sido considerado excelente alternativa em relação ao asfalto. As estradas de concreto são mais adequadas em diversas situações, principalmente em trechos com muito tráfego de veículos pesados, regiões de serra ou com grande número de veículos leves. É o caso da rodovia Osório-Porto Alegre, administrada pela Concepa. “A vida útil do pavimento de concreto é mais do dobro. Além do mais, praticamente, não precisamos dar manutenção, o que reduz custo e evita interromper o tráfego. O custo inicial é maior, mas compensa ao longo do período da concessão”, esclarece Marcelo Dama, Gerente de Engenharia da Concepa. 
Outras vantagens apontadas por Dama é que na estrada em concreto o risco de aquaplanagem é reduzido e a refletividade do pavimento é maior. Os usuários da Concepa que estão circulando por 17km de estrada de concreto, que já foram aplicados pela concessionária, aprovaram o concreto e tem elogiado a maior aderência nos dias de chuva e visibilidade à noite. O presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Carga, do Rio Grande do Sul, João Pierotto confirma: “Há melhor aderência dos rodados, mesmo em pista molhada”.

PAVIMENTO DE CONCRETO É COMUM NO EXTERIOR
A utilização do pavimento de concreto é muito comum nas rodovias mais importantes do mundo. “Na maioria dos países de primeiro mundo como EUA, Alemanha, França, as grandes rodovias são feitas com pavimento de concreto”, esclarece Márcio Rocha Pitta, especialista da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), entidade que reúne as principais empresas do setor no país e que está procurando conscientizar o mercado das vantagens do concreto.
Na realidade a utilização do pavimento de concreto não é novidade. Muitas das rodovias mais importantes do país foram construídas com concreto e depois mudaram o piso. É o caso da Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e a Via Anhanguera, ligando a capital paulista à região de Campinas e interior do estado. Algumas rodovias como a Rio-Petrópolis ainda tem o pavimento de concreto no trecho de serra. Há casos de rodovias feitas em concreto, como a Teresópolis-Itaipava, no Rio de Janeiro, que mantém o mesmo pavimento há quase 50 anos.
O Engenheiro Eduardo Feres, do antigo DNER, atual DNIT, que cuidou do trecho da subida da serra da Rio-Teresópolis, explica: “ O trecho em concreto resistiu bem nestes 43 anos, desde que foi inaugurado em 1959. E a nova descida da serra, que está prevista no contrato de concessão, também será em concreto”.

UTILIZAÇÃO DO ASFALTO CRESCEU COM O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

A opção pelo asfalto foi estimulada pelo baixo custo, fruto do desenvolvimento da indústria do petróleo, numa época em que as empresas de cimento tinham outras prioridades. Além do mais, o asfalto era prático, facilitava a manutenção e conforto ao dirigir, já que antigamente as pistas de concreto tinham fendas que criavam pequenos degraus na pista. 
Atualmente, com a elevação dos preços do petróleo, a maior capacidade de produção da indústria de cimentos, e novas tecnologias que tornaram as estradas de concreto tão confortáveis quanto as de asfalto, o pavimento de concreto passou a despertar atenção das autoridades e concessionárias de rodovias.
Apesar das vantagens, em diversas situações, a aplicação do pavimento de concreto não é tão simples quanto a do asfalto. “O pavimento de concreto não aceita desaforo”, esclarece Márcio Pitta da ABCP. Os erros na obra aparecem rapidamente e refazer tem custo muito alto. Segundo o professor da USP, José Tadeu Balbo, há poucos engenheiros com vivência na aplicação de pavimentos de concreto nas rodovias. “Nas próprias faculdades não há muitos professores com essa experiência”, esclarece Balbo.
Isto explica obras que apresentaram problemas no pavimento de concreto, como o Contorno Sul de Curitiba, em que a empreiteira cometeu erros na execução da obra e apesar de ter corrigido depois, fez com que o DNER optasse por pavimentar boa parte do trecho com asfalto, que inicialmente estava previsto para utilizar concreto. “Nós explicamos o que aconteceu no laudo técnico que está em poder do DNIT”, informou Carlos Roberto Giuglin, Gerente da Região Sul da ABCP, que garante que o episódio não prejudicou o pavimento de concreto. “Quando a obra é executada respeitando rigorosamente os critérios técnicos não há problema. Mas quando isso não é feito os problemas vão aparecer não importa qual o tipo de pavimento utilizado”, afirmou o representante da ABCP.
Duas das maiores obras em curso no país estão utilizando pavimento de concreto. O Rodoanel de São Paulo e a rodovia BR 232, em Pernambuco, ligando as cidades do Recife e Caruaru. No caso pernambucano são 118,4 km de estrada, com pista dupla, sem contar o primeiro túnel rodoviário do Nordeste, com 374m de extensão. O valor da obra é estimado em R$ 311,5 milhões. Os profissionais da estrada, como o motorista de ônibus da RCR, José Guilhermino da Silva aprovaram: “Não senti diferença no conforto ao dirigir, quando passei do asfalto para esse tipo de estrada de concreto, mas percebi que o ônibus fica mais seguro de dirigir no concreto”. Pernambuco é o estado com a maior malha de concreto do país, são 650km de via pavimentadas em concreto, sendo 414km de rodovias e o restante em via urbana.
Para o Rodoanel de São Paulo, considerado a maior obra rodoviária do país, está sendo utilizado o pavimento de concreto, já que o trecho deverá receber grande volume de tráfego, principalmente de veículos pesados. O engenheiro especialista da Secretaria de Transportes de São Paulo, Octavio de Souza Campos esclarece que os primeiros 39km em operação usarão concreto e os demais 68km também deverão utilizar. “Quando o volume de tráfego é muito elevado e as condições do solo não são muito favoráveis, o pavimento de concreto é mais adequado”, afirma Campos.
Na rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo a Baixada Santista também foi utilizado pavimento de concreto na interligação Anchieta-Imigrantes que depois de 25 anos já provou sua eficiência.

CONCRETO SERÁ MAIS UTILIZADO, MAS NÃO IRÁ COLOCAR O ASFALTO NO ACOSTAMENTO

Apesar da aprovação dos especialistas, o pavimento de concreto não irá reinar solitário. Tudo indica que o asfalto ainda continuará a ser mais utilizado. “Não creio que haja uma tendência de utilizar mais o pavimento de concreto que o asfalto. Nas estradas com menor tráfego o asfalto vai continuar predominando”, esclarece Campos.
A engenheira Márcia Fragoso, da Concer, concessionária que administra o trecho Rio-Juiz de Fora, lembra que no trecho inicial da rodovia, onde estão sendo feitas obras de alargamento e construção de marginais, a concessionária preferiu utilizar o asfalto. “Tudo depende das condições e características do trecho”, informa a engenheira.
A professora de Mecânica dos Pavimentos, Laura Motta, que leciona no mestrado e doutorado de Engenharia Rodoviária da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ensina:
“Existem vantagens e desvantagens de cada um, depende de volume de tráfego, características do solo, custo de manutenção periódica, de uma análise de gerência de longo prazo”. Laura Motta reconhece que muitos engenheiros rodoviários precisam estudar as técnicas de utilização de pavimento de concreto. “Na Coppe sempre ensinamos as duas técnicas”. A professora lembra que erros numa construção com pavimento de concreto são muito mais graves, de custo mais elevado e cita o exemplo da Linha Amarela no Rio de Janeiro, onde também foram cometidas falhas na execução em trechos pavimentados com concreto, e o piso já está trincado. “As técnicas mudaram, é preciso estudar”, adverte Laura.
Embora todos os especialistas, de ambos os lados reconheçam que o tipo de pavimento depende de inúmeros fatores, há muitas licitações de obras públicas em que só é prevista a utilização do asfalto. Isso prejudica a concorrência que é salutar para o usuário final.

SETOR DE ASFALTOS ESTÁ PRONTO PARA A CONCORRÊNCIA
Para Flávio Vianna, Diretor da Abeda (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfalto) as empresas de cimento estão interessadas nas estradas porque vem perdendo espaço no setor de construção civil e possuem capacidade ociosa.”A nossa indústria sempre priorizou a pavimentação de estradas e vias urbanas. A indústria de cimento tinha outros interesses. Mas o custo inicial do pavimento de concreto é muito mais alto e já existem asfaltos com grande durabilidade”, informa Vianna.
Já o especialista em asfaltos, Armando Morilha, da Greca, uma das grandes empresas do setor, lembra que a maioria das rodovias tem baixo ou médio volume de tráfego e que nesses casos o asfalto é praticamente imbatível. Morilha informou que além de novos produtos e equipamentos, que garantem maior competitividade ao setor, existem novas alternativas que estão sendo utilizadas no país, com grande potencial. É o caso do chamado “asfalto de borracha”, em que pneus são moídos, produzindo uma espécie de areia de borracha que é misturada ao asfalto, criando um produto mais flexível, com maior durabilidade. “Nossa empresa desenvolveu técnicas novas dessa utilização comum nos EUA e já implantamos 1km num trecho de uma concessionária gaúcha, a Univias. Conseguimos aumentar em 50% a vida do asfalto, e reduzir a espessura para 6cm”, diz Morilha.
O sucesso do produto despertou o interesse de outras concessionárias e tem atraído os órgãos ambientais, pois a reciclagem dos pneus é um dos grandes problemas da sociedade moderna. São mais de 30 milhões de pneus jogados fora por ano. O tema torna-se ainda mais interessante na medida em que, para 1km de estrada com asfalto de borracha, é necessário reciclar 1.000 pneus.
Sem querer entrar na polêmica asfalto x concreto, o Coordenador de Negócios da Ipiranga Asfaltos, Humberto Cardoso do Nascimento explica: “ Há espaço para ambos os produtos, mas o que realmente importa é pavimentar o Brasil. Demonstrarmos para a sociedade o custo social e econômico de estradas em más condições ou que ainda são de terra. Na França, este ano, apesar de ser um país pequeno comparado ao nosso, serão utilizados 4 milhões de toneladas de asfalto nas estradas e ruas do país, aqui no Brasil serão 1, 5 milhão. A maior parte das estradas e ruas do Brasil ainda não foram pavimentadas. Portanto, há mercado para todos. Os dados oficiais indicam que menos de 10% da malha rodoviária brasileira foi pavimentada, mas na realidade esses números estão muito abaixo da realidade. Somente na região de Itapetininga, no Estado de São Paulo, descobriram, em recente levantamento, mais de 100.000 km de estradas municipais e vicinais”.
Com a concessão das rodovias para o setor privado e a proliferação de pedágios nas estradas, o usuário passou a ser um consumidor que deseja obter o melhor pelo que paga. No caso da estrada, os usuários estão começando a ficar atentos para saber se a concessionária está investindo no que existe de melhor. Para isso precisa ser informado de tudo, principalmente da qualidade do material do pavimento sobre o qual está dirigindo. Afinal, os recursos saem do bolso do usuário.


ESTUDO CANADENSE REVELA QUE CAMINHÕES GASTAM MENOS COMBUSTÍVEL NAS ESTRADAS DE CONCRETO

Segundo estudo do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá, caminhões podem economizar 11% de combustível rodando em rodovias de concreto. O estudo foi feito comparando veículos que circulam em rodovias asfaltadas e de concreto. A justificativa para o resultado é atribuída a menor resistência que o pavimento de concreto oferece aos caminhões já que as estradas de concreto têm superfície mais rígida, indeformável e estável, o que beneficia o rolamento do veículo. Em países de temperatura média elevada, como o Brasil, esse benefício poderia ser até maior, já que, com altas temperaturas o asfalto tende a amolecer o que acaba prendendo mais o veículo pesado.
Além da economia de combustível significa redução na emissão de gases poluentes, esclarece Márcio Pitta, da ABCP. No caso do Canadá, a economia com combustível, caso as principais rodovias fossem de concreto, seria de quase US$ 70milhões por ano.
Para, Geraldo Vianna, presidente da NTC ( Associação Nacional dos Transportadores de Carga) essa informação é muito importante para o setor. “Vou mandar o meu pessoal da área técnica estudar o assunto”, afirmou o empresário.
 Fonte: Estradas

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